19.6.06

(a)Versões mitológicas


E quem diria que Camila é personagem da mitologia? Ontem, batendo os olhos em um livro sobre o assunto, descobri que:
”Camila, favorita de Diana, caçadora e guerreira, à feição das amazonas (...) dava a impressão de que passava pelos trigais sem esmagá-los ou sobre a superfície da água sem afundar. A história de Camila foi singular desde o começo. [...] Desde criança, ela aprendeu a manejar o arco e a lançar o dardo. [...] Seu vestido era uma pele de tigre. Muitas mães a desejavam para nora, mas ela continuava fiel a Diana e repelia a idéia de casamento”.

E quem diria que meu gosto por estampa de oncinha (1) tem explicação. Pra não falar de casamento.

(1) Na foto, minha poltrona Marcinha sob o gato Perón.

O cúmulo do abandono

Em giro pela Avenida Paulista neste sábado, dia de Parada Gay, me vi às voltas com um pensamento na paralela: tem coisa mais triste que farol funcionando à toa? Poucas cores, do vermelho pro verde, do verde pro vermelho.

Talvez tenha sido apenas um ataque de solidão compartilhada.

16.6.06

Horóscopo


Piscianos não gostam de magoar ninguém.
Mas eles se magoam.
Aliás, não sei deles. Na verdade, eu é que me magôo e faço as pessoas tristes.
À mesma medida, eu diria.
De um lado, está o grupo dos que eu quero manter intactos.
De outro, estão aqueles que me dizem o quanto eu sou injusta.
Tenho dificuldades em somar os lados.
Quem sou eu? – Boa, ruim, justa ou injusta.
Eu sou alguém que quer demais, dizem os outros.
Enfim. Ninguém me ensinou a querer na medida certa.
Desejo melhorias, bosta.
Não quero aceitar que as pessoas são em parte em incapazes de mudar.
Assim como vejo que eu não sou.
Acredito em mudança como a solução acima das soluções.
E não consigo mudar!
Apesar de tentar algo diferente a cada dia.
Estou triste. Mas não posso ficar triste.
Meu negócio é tentar ser melhor.
Por que é que ninguém me ensinou a não questionar?

Não à razão


Alguém espera que futebol seja algo racional?

Seria perda de tempo tentar entender por que um time desperta adoração e defesas apaixonadas, enquanto outros geram sentimentos de grau zero de apreço. Especialmente em tempos de Copa do Mundo, em que, depois do seu próprio, inclusive mais de um país pode ser seu preferido (1).

Eu, por exemplo,tive a chance de viver na Itália há algum tempo, e isso me traz uma enorme simpatia pelo time (lê-se: se ganhasse, não estaria mal, está no hall das minhas possibilidades). Também estou em uma fase de extremo entusiasmo pela unidade latina: qualquer time da América Central ou do Sul levando a taça pra casa me deixaria feliz, como se parte de mim fosse colher os louros dessa vitória.

Bom – “qualquer time” –, é bom dizer que também não é o caso. Sou adoradora das coisas argentinas – sobretudo o cinema – e da Argentina em si e confesso, sem medo de parecer patético-irracional, que não quero jamais que eles ganhem que seja a primeira fase do campeonato. Acredito, e piamente, que futebol seja o fruto do que você sempre pensou (2) não de um tipo de análise ponderada do que quer que seja.

Também vale dizer que futebol é muito mais que esporte. Recentemente, recebi um e-mail de uma alemã que descrevia o cenário das últimas semanas lá na Alemanha, que está obviamente pra lá de imersa no frenesi desta Copa. Ela dizia que, curtam futebol ou não (3), todos os alemães estão em estado de êxtase com o ambiente que se formou: casas coloridas, pessoas se cumprimentando não-importa-o-quê-nem-de-onde, sensação de poder voltar a ser patriota, ao menos por alguns meses, sol, que parece que brilha mais, e, enfim, sentimento de fazer parte de uma festa.

E aí entra um comentário pessoal. Eu, que também já morei na Alemanha, estou me sentindo bem esquisita, como se alguém tivesse inventado de dar a maior festa em uma casa que também é minha, só que resolveu não me convidar (4). Berlim surge na televisão, e já sinto arrepios. Vontade. Raiva. Dor de cotovelo.

Mas aí depois já me lembro: futebol é isso aí. Não é algo racional; quase não é esporte. Que fiquem pra lá as discussões a respeito e que sejam curtidos os momentos tão gostosos quanto o desta foto aí (5).

(1) Acho um absurdo gente que vira casaca e passa a torcer pra outro time e a desdenhar do Brasil. Acho mesmo. E daí??? Que torçam pro Brasil E para outros.
(2) Yes, I´ve been brainwashed. And it feels very good.
(3) Eles supercurtem.
(4) Ciúmes de país é uma total novidade, hein?
(5) Benedict e Johannes, da família, no estádio de Dortmund para a partida da Alemanha contra a Polônia (1x0 pra eles aos 46´ do segundo tempo. Haja coração).

15.6.06

Nada nunca é demais


It wasn´t because I didn´t know enough. I just knew too much.
Does that make me crazy? Problably.

O que é, o que é?

Como é que se explica o amor quando ele é busca e não certeza? Que nome se dá a ele quando a curiosidade supera o equilíbrio das perguntas respondidas, e os dias tornam-se um punhado de vais e de vens? Qual dos sentimentos, que me respondam os deuses ou os homens, tem doses de sim e de não, passeia entre o querer e o negar e, mesmo assim, transmite a segurança que é o ninar entre os cantos da vida?

– Não sei o que pode ser, mas, suspeito, é eterno.